Partindo da nossa última conversa sobre alimentação infantil (veja aqui o início dessa conversa), vamos começar falando sobre a introdução da alimentação complementar que acontece aos 6 meses.
Nessa idade é o período da introdução aos alimentos. A criança está saindo do aleitamento materno. Preste atenção: saindo e não terminando.
Essa fase é o primeiro marco de mudança de hábitos na vida da criança. Até os 6 meses sua alimentação deverá ter sido apenas de leite materno ou fórmula (no caso de crianças que por algum motivo a mãe não pode amamentar), importante para garantir exatamente as necessidades da alimentação e, no caso do leite materno, conferir imunidade contra várias doenças e alergias (só ele faz isso). Aliás, vale lembrar aqui que não existe leite fraco: toda mãe produz o leite materno adequado a criança que ela gerou; com todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento completo.
A partir dos 6 meses entrarão alguns alimentos junto com o aleitamento. Essa fase é chamada de alimentação complementar, porque ela complementa o aleitamento (que deverá continuar até os 2 anos de idade) para cobrir as necessidades de desenvolvimento da criança.
1º erro: se comida complementa, então quanto mais cedo eu der, melhor. Pensamento equivocado. Até os 6 meses, o aleitamento fornece tudo que uma criança precisa. Ele só precisa ser complementado a partir dessa idade.
2º erro: se todo mundo come comida, a criança também já pode comer. Outro equívoco. Nosso organismo não está completamente pronto quando nascemos. Ele ainda estará se desenvolvendo por um longo período. Por isso até os 6 meses nós só fazemos uma boa digestão de leite materno. Mesmo a fórmula infantil poderá levar a um período de adaptação, variando de criança para criança. Os outros alimentos se tornam muito difíceis para serem digeridos em tão pouca idade e isso pode levar a cólicas, prisão de ventre e atrapalhar a absorção do que o corpo precisa, comprometendo o crescimento e peso da criança. Então, até os 6 meses só o aleitamento. A partir dessa idade, a criança começará a ter a introdução de arroz, feijão, carne ou frango, legumes, verduras e frutas. Primeiro se começa com o almoço, depois se introduz a janta e entre as refeições entrará o leite. Nessa fase, quanto mais caseiro for a alimentação melhor.
Vamos as dicas dessa fase:
Variedade de alimentos, para a criança começar a formar o paladar e oferecer diferentes vitaminas e minerais.
Para fornecer energia: arroz, macarrão, milho, batata, aimpim.
Fontes de ferro e fibras: feijão, grão de bico, lentilha.
Proteínas, ferro e zinco: carnes de boi, carnes de frango, peixe e ovos.
Fontes de vitaminas e minerais: frutas, legumes e verduras.
Evitar bebidas de pouco valor nutricional: café e chás. Não ensinar o gosto por refrigerantes.
Não dar muito suco nessa idade para que a criança não perca o apetite para a comida, porque seu estômago ainda é muito pequeno.
Evitar o leite de vaca até o 1º ano de idade; seu consumo nessa idade pode levar a anemia e alergias.
Evitar a utilização de açúcar nos sucos e papinhas de frutas.
Evitar pedaços grandes que podem levar a engasgo: oferecer a carne moída ou desfiada, frutas amassadas. Nada de comida batida no liquidificador porque a criança precisa mastigar para o desenvolvimento da dentição.
É proibido dar mel para crianças no 1º ano de idade; o mel contaminado pode levar ao botulismo nessa idade.
A alimentação da criança deve acontecer junto com a alimentação da família, para criar a rotina e ela se sentir fazendo parte de toda a dinâmica que envolve as refeições. Isso contribui também para o desenvolvimento social e afetivo.
A hora do alimento tem que ser em um momento calmo e divertido para a criança. Mas, não deve se utilizar brinquedos ou televisão nesse momento, apenas tem que ser um momento de prazer, tanto para ela quanto para todos da casa.
Esqueça o pão, biscoitos, gelatinas (cheias de corante que causam alergias), achocolatado e geléia de mocotó (cheios de açúcar).
Até 1 ano, um esquema legal é:
leite materno ou fórmula, papa de fruta amassada ou fruta bem picadinha, comida salgada (arroz, feijão, carne, legumes e verduras) amassados primeiros e picadinhos conforme aumentar a idade, fruta ou suco de sobremesa, leite materno ou fórmula, comida salgada, leite materno ou fórmula. Na dúvida sobre a alimentação correta a dar ao seu filho procure um nutricionista.
O Pediatra auxilia e acompanha o desenvolvimento físico e faz todas as condutas necessárias ao diagnóstico de doenças e prescrição de medicamentos ou vitaminas, caso seja necessário. Mas o nutricionista, que é o profissional apto para cuidar da alimentação, pode muito precocemente verificar um erro alimentar, corrigi-lo e resolver problemas em decorrência de algum distúrbio alimentar, antes que haja prejuízo no desenvolvimento da criança. É um trabalho de parceria, que em alguns casos também conta com a ajuda de psicólogos e fonoaudiólogos. Todos envolvidos para que essa fase seja um sucesso para os pequenos.
E então teremos um bebê com uma alimentação saudável até 1 ano de idade. A partir dessa idade será outra fase e faremos uma outra conduta, descrita na próxima matéria.
Fonte:
Nutrição - da Gestação ao Envelhecimento - Vitolo.
Nutrição em Obstetrícia e Pediatria - Accioly, Saunders e Lacerda.